Até o início de 2020 eu usava as redes sociais apenas para me divertir, terminei a minha graduação entrei logo em seguida na residência multiprofissional (a qual era dedicação exclusiva então eu não poderia trabalhar para além das 60 horas semanais obrigatórias), até esse momento Facebook, Instagram, Snapchat, Telegram, Tinder e Pokemon go era por onde meu tempo online circulava, antes disso também tive Twitter, Tumblr, Orkut… segui a onda das diversas redes sociais que foram aparecendo ao longo dos anos.
Chegou 2020, minha residência terminou no dia 28 de fevereiro, mudei de cidade, começou a pandemia e me vi obrigada em meio aquele pandemônio mental em que vivíamos de forma coletiva criar um ‘Instagram profissional’ produzir conteúdo com objetivo de captação de clientes (a maior frustração da vida), ficar falando de datas comemorativas e trazer problematizações sobre qualquer assunto que estivesse em alta, era a tal receitinha de sucesso a tentativa de ser o peixe mais bonito no meio do cardume - eu sei que não era uma angústia só minha, qualquer pessoa que tinha deixado para 2020 começar a viver estava nesse mesmo imbróglio, ao mesmo tempo em que o celular e o computador eram as únicas possibilidades de entretenimento eram os maiores geradores de ansiedade.
Foi após muito tentar criar gatilhos na rotina para postar e mostrar rotina e qualidade do meu trabalho que eu decidi largar a mão dessa obrigatoriedade de postar, porque antes quando eu só me divertia nas redes, lendo causos no grupo LDRV do Facebook, postando coisas divertidas no Instagram sem nenhuma intencionalidade, baixando livros no Telegram e caçando monstrinhos por aí o celular era a minha forma de me comunicar e ao mesmo tempo entreter, ele não era o meu trabalho.
Mas agora parece que virou de trabalho de todo mundo, ali na palma da mão surgem as soluções para tudo, e ao mesmo tempo você precisa vender soluções - sou só eu que estou achando as redes sociais em geral uma vitrine na palma da mão? A vida se torna cada vez mais consumo, e consequentemente um desejo de ser consumido, os textos aqui inclusive falam por si, o desejo de ser lido é algo que vai escalonando mesmo que seja óbvio que não desejamos escrever para as paredes não podemos deixar de lado a fadiga que produzir conteúdo gera na nossa rotina, a fadiga mental de articular ideias não se mensura. A outra fadiga mental de interpretar a ideia dos outros também precisa de um tempo de acomodação.
Acho que foi por isso que parei de ler livros concomitantemente, mesmo sendo um para estudo e outro para lazer, e me dei conta agora que ali quando a internet era divertida nós (principalmente Millenials) não pensávamos tanto em likes ou formatos de conteúdo, existia basicamente o aplicativo de conversar e o aplicativo de olhar para o mundo, sem tanta propaganda, poderíamos acreditar que desconhecidos poderiam nos fornecer sugestões confiáveis, que geralmente dava certo (que atire a primeira pedra quem não baixou o ultimo álbum de alguma banda a partir de um link duvidoso).
Não falo que a internet era melhor no passado, talvez os olhos desatentos dessa pessoa que redige esse texto conseguia olhar o mundo virtual com mais generosidade, isso porque para uma adolescente que cresceu no interior de Rondônia, era uma forma de conhecer o mundo e para uma jovem que estava longe de casa era uma forma de se sentir mais próxima daqueles que ficaram lá.
Amadurecemos, a internet amadureceu, e talvez a diversão tenha ganhado novos formados - Felizmente não somos os mesmos.
Instagram ou Threads (um pouco de rotina)
Pinterest (onde posto meus bordados)
Site (Para saber mais sobre o meu trabalho como psicóloga e psicanalista)